Minha vida é um livro aberto

Histórias boas realmente valem a pena ser "relidas", "revividas". Mas será que nossa vida também é um livro tão interessante quanto o das histórias? As vezes as histórias vividas são mais loucas que as reais, e por um motivo ou outro, você acaba não contando. Quem acreditaria?
Com isso em mente, comecei a reler minha vida e revive-la. Essa reflexão é necessária, de vez em quando. Nos faz bem, sabe. E descobri páginas em branco no meu livro. Páginas arrancadas (muitas), páginas em que as letras estavam quase sumindo. Algumas eu ri, algumas chorei. Notei uma constância. Os momentos em que eu estava mais feliz, minha família estava comigo e meus amigos verdadeiros estavam também. E nos momentos não tão felizes, eu não escutava a nenhum desses.
As páginas arrancadas eu não consegui resgatar. E acho que isso é bom. Porque reviver um momento tão ruim? As poucas lembranças desses momentos, inclusive, não são minhas. São lembranças que alguém me contou e meu cérebro montou uma imagem, que eu tenho certeza absoluta, não existiu. Definitivamente, nessas páginas, não está ninguém que deixa saudades. A propósito, no meio dessas páginas há uma ou duas que ainda estão lá. Mas apagadas. É ruim a sensação de você "conhecer" alguém e não se lembrar dos bons momentos que passou com ela, principalmente quando se olha em seus olhos e percebe que ela, diferente de você, se lembra.
Acho que ser adulto é isso. Quando crianças, somos pequenos lençol, inteiros, uns cor de rosa, outros azuis, nunca preto. O tempo passa e começamos a cortar um pedacinho aqui, outro ali, e distribuir. Esses pedacinhos são o que cada um que passou por nossas vidas contribuiu pra você ser o que é hoje. Na adolescência, ja somos uma couxa de retalhos, bem colorida (algumas já pretas rs) e sempre achamos espaços pra mais uma peça, mais um pedaço. Não fazemos distinção de quem entra na nossa vida. Quanto mais, melhor. Quando adultos, essa couxa começa a tomar distinção de uma cor, e poucas diferentes. Na velhice, ela está bem gasta e esbranquiçada. As lembranças estão quase sumindo.
Meu livro começou a ser escrito pra valer em 2004. Comecei a errar e a acertar aí, e aí eu arranquei anos de páginas desnecessárias. Se hoje eu leria esse livro? Acho que não. Prefiro continuar escrevendo-o e deixar que quem está a minha volta o leia. Assim vai ter sempre uma página a mais pra ler.
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