Crise do "pequeno".

Agora, são exatamente 6:10 da manhã de uma sexta feira e Hoje acordei com vontade de trabalhar no meu primeiro emprego.

Eu sou aquele cara que ja abandonou 2 faculdades no 1º semestre em excelentes faculdades (Direito na UNIP e Biologia na UCB), 1 faculdade na metade do curso (Biologia na UNIP), fez 1 ano de cursinho preparatório pra concursos em 2010 e está na metade do curso de Publicidade e Propaganda na Faculdade Anhanguera de Brasília.

Sou um cara extremamente racional, que toma decisões com base no emocional. Quantifico tudo, pra depois contrariar meus próprios números por causa de uma intuição. Vou da paciência à raiva em segundos, só pra no próximo segundo estar rindo.

Nas minhas redes sociais da internet, me defino da seguinte forma:

"Um cara, estudante de Publicidade, apaixonado por boa comida, bons filmes e boa música e um grande torcedor do Fluminense FC. Minha Família e amigos são minhas bases e Deus é essencial na minha vida. E assim minha vida continua... :)"

Estou chegando na minha crise dos 24 anos, e isso é interessante. Não tem nada a ver com aquela disposição que as crianças tem em associar o numero 24 a algo pederasta, mas sim com o fato de ja terem se passado 6 anos desde que entrei pra sociedade como um "adulto". Em 6 anos, muita gente se formou na faculdade, tem um emprego, abriu uma empresa, se casou, teve filho, comprou uma casa, viajou pro exterior, se decepcionou com tudo, largou tudo e iniciou do zero de novo e já está na fase "boa". Tempo demais hein?

Estou naquela fase que hora quero estar exatamente onde estou, hora quero mais, muito mais, e hora quero regredir. Como eu disse, hoje acordei com vontade de voltar ao meu primeiro emprego.

Meu primeiro emprego foi uma experiência das melhores. Contratado aos 20 anos sem experiência alguma em nada pra ser operador de telemarketing da Brasil Telecom. Ganhava na carteira de trabalho R$438,00, mas no bolso só apareciam R$340,00. Não trabalhei lá um segundo sequer pelo dinheiro. Eu gostava de trabalhar lá. De verdade. No dia em que eu acordei sem ânimo de trabalhar lá, pedi demissão. Lá aprendi, cresci, ganhei respeito, fui invejado, fiz amizades, ri bastante, me apaixonei, chorei, vi o poder crescer aos meus olhos e vi as cores de tudo esmaecerem. Sim, fui feliz lá, com meus R$340,00 todo mês. E hoje eu acordei com vontade de voltar a trabalhar lá.

Ao contrário do que possa parecer, eu não sou um cara que se rende fácil ou desiste fácil das coisas. Muito pelo contrário, se eu fosse um animal seria uma mula tinhosa. Quando ponho algo na cabeça eu faço, e não tenho dúvidas de estar fazendo a coisa certa ou não.

Me arrependo de poucas coisas que fiz nesses quase 4 anos. Me arrependo de ter sido omisso comigo meso durante a infancia. Hoje existe o termo Bulling, antigamente chamavam isso de "frescura". Me arrependo de não ter continuado na natação. Eu era realmente bom e era uma coisa que me dava prazer. Me arrependo de não ter seguido meu coração na minha adolescência. Minha auto estima era baixa demais na época. E me arrependo de ter vestido o gorro do carrasco em meu primeiro emprego. Ávido por dar o melhor, me esqueci de que por trás do gorro, há um ser humano.

Os 24 anos trazem um peso enorme pras costas. Minha primeira lembrança de ir numa igreja é de quando eu tinha 4 anos, com uma roupa costurada por minha mãe. Passado algum tempo, aos 14 decidi que iria exercer meu catolicismo, passei a frequentar a igreja. Fiz a primeira eucaristia e saí da crisma a 1 semana de "crismar" (lembra de que eu disse que sou uma mula tinhosa? quando quero, faço). Aos 19 fui exercer meu evangelismo, que conheci aos 15. Hoje com quase 24 não sei realmente o que estou procurando. Tenho Deus no meu coração, ele fala comigo, então qual o propósito da igreja? Meu lado racional sempre tenta argumentar com meu lado emocional. Mas existe razão na emoção?

Frequentei psicólogos diversas vezes na minha vida. Na fase de criança, na adolescência, na fase adulta, e pra falar a verdade, acho que não sei o propósito deles. Minha vida sempre foi como a maré. As vezes calma, as vezes devastadora e as vezes simplesmente mudando o curso completamente, e me desculpem senhores psicólogos que conheci, mas sua razão ainda não faz sentido nenhum pra minha emoção.

Consigo imaginá-los me falando: "Voltar pro primeiro emprego? Liberte-se disso, você tem que crescer, evoluir, nada de pensar pequeno." Mas hora, o que isso tem de pequeno?

Talvez porque com 24 anos, espera-se que a pessoa esteja trabalhando em um bom emprego, casado, com filhos pequenos, sua propria casa, seu carro, e um belo jardim na frente de casa. Mas desculpem-me, aos 24 eu não sou nada disso.

Talvez as pessoas projetem seus ideais de felicidade uns nos outros, combrem-se pra que sejam cobradas, a fimd e todos evoluirem e alcançarem esse patamar desejado.

Em mim há duas pessoas. A primeira, projeta um cargo público pela manhã, salário de R$5.000,00, e carreira de professor em uma faculdade de renome a noite, hora ensinando o amor que aprendi a ter pela Biologia, hora ensinando a paixão que me assolou pela publicidade. Nas horas vagas, fazendo um free-lance pra quem sabe a Pixar, ou a Dreamworks, lançando enfim a animação baseada naquele livro que eu mesmo escrevi a anos atrás, que está na minha bíblioteca particular em minha casa, onde eu me recolho, com um bom carro a frente da garagem. Mas a segunda é esse garoto, que teve manias durante toda a vida, colecionou bugingangas, foi inventivo, sonhou sem se preocupar com a altura do solo pq sabia que não iria cair. Esse garoto que sempre foi apaixonado por tdo que é vida, por verde, por bichos, que se apaixonou por um empreguinho pra ganhar a metade de um salário mínimo, que gosta de tomar suco Fresh (aquele pó da morte bem baratinho), comer um pão com manteiga e quando lhe é oferecido comer num shopping, gosta de comer o mesmo arroz com feijão que tem na panela de casa. Lendo isso, quem você acha que escreve esse texto nesse momento?

Esse ano em que completo 24 anos é ano de decisões. Numa estrada eu tenho um bom emprego concursado, um salário pra lá de digno, uma carreira brilhante e provavelmente o sucesso. Na outra eu tenho pouco. Só uma faísca de alegria. E nesse momento eu estou mais inclinado a querer essa faísca. Porque hoje eu acordei com vontade de trabalhar no meu primeiro emprego.

Comentários

  1. Cara, falou tudo agora!! Tô passando por uma crise semelhante... Ainda não defini que caminho seguir nem harmonizar o conflito... Enfim. Quando tu descobrir uma solução para si, posta aí tambem.
    Muito boa essa postagem. Ao contrario de mim, vc sabe se expressar...
    Falow!!

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